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Memórias e Histórias

Começar pelo negativo: imagens, gestos e memórias a conservar

Imagem em negativo da banda musical Tiro-Liro, anos 30, Estremoz
Negativo de vidro, gelatina e sais de prata, 13x18 cm. Banda Tiro-Liro, c.1930, Foto-Carvalho (foto da autora, coleção Estudios Correia, Estremoz

Este blog começa com uma imagem em negativo. Não tanto pela metáfora do reverso ou da ausência, mas pela materialidade própria de um objeto muitas vezes esquecido: o negativo fotográfico. Foi em 2009, na II Semana da Fotografia na Golegã, que me deparei com uma prática que até então passava quase invisível aos meus olhos e da história: o retoque de negativos. Um gesto técnico, discreto, mas carregado de intenções. Um gesto que, descobri, abria caminho para questões muito mais amplas sobre cultura visual, memória, representação e conservação.


Desde então, esse ponto de partida tornou-se num longo percurso de investigação. Começa num contexto académico, mas desenvolveu-se em projetos, colaborações, exposições e trabalho de conservação. E agora, neste espaço, num registo mais aberto, mas igualmente comprometido. Este blog nasce da vontade de continuar a pensar – e a partilhar – as perguntas, descobertas e inquietações que têm marcado o meu percurso na conservação. Parte do gesto de conservar, mas quer ir além dele.


Aqui encontrarão textos com temas variados. Alguns partem diretamente da minha investigação sobre o retoque fotográfico em negativos de coleções Portuguesas da primeira metade do século XX. Outros nascem de outras investigações, do trabalho com coleções, arquivos e objetos concretos. Outros ainda propõem uma reflexão mais ampla sobre a imagem, o património, a identidade ou a memória. Mais do que uma sequência linear ou uma série organizada, este blog é um caderno aberto. Um lugar de encontros entre prática e teoria, entre técnica e cultura, entre o visível e o invisível.


Conservar, afinal, não é apenas preservar objetos. É ativar gestos. É escutar as escolhas de quem nos antecedeu e reconhecer as camadas – materiais, simbólicas, sociais – que se depositam nas imagens e nos artefactos. É também interrogar o presente: o que escolhemos lembrar? O que deixamos apagar? Que histórias ficam por contar?


Começar pelo negativo é, neste caso, um modo de olhar para o avesso das imagens, para os bastidores da fotografia, para aquilo que raramente é mostrado — mas que sustenta o que vemos. É nesse avesso que quero começar. E é por aí que convido quem lê a continuar.


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