Começar pelo negativo: imagens, gestos e memórias a conservar
- ccconservacao
- 5 de jun.
- 2 min de leitura

Este blog começa com uma imagem em negativo. Não tanto pela metáfora do reverso ou da ausência, mas pela materialidade própria de um objeto muitas vezes esquecido: o negativo fotográfico. Foi em 2009, na II Semana da Fotografia na Golegã, que me deparei com uma prática que até então passava quase invisível aos meus olhos e da história: o retoque de negativos. Um gesto técnico, discreto, mas carregado de intenções. Um gesto que, descobri, abria caminho para questões muito mais amplas sobre cultura visual, memória, representação e conservação.
Desde então, esse ponto de partida tornou-se num longo percurso de investigação. Começa num contexto académico, mas desenvolveu-se em projetos, colaborações, exposições e trabalho de conservação. E agora, neste espaço, num registo mais aberto, mas igualmente comprometido. Este blog nasce da vontade de continuar a pensar – e a partilhar – as perguntas, descobertas e inquietações que têm marcado o meu percurso na conservação. Parte do gesto de conservar, mas quer ir além dele.
Aqui encontrarão textos com temas variados. Alguns partem diretamente da minha investigação sobre o retoque fotográfico em negativos de coleções Portuguesas da primeira metade do século XX. Outros nascem de outras investigações, do trabalho com coleções, arquivos e objetos concretos. Outros ainda propõem uma reflexão mais ampla sobre a imagem, o património, a identidade ou a memória. Mais do que uma sequência linear ou uma série organizada, este blog é um caderno aberto. Um lugar de encontros entre prática e teoria, entre técnica e cultura, entre o visível e o invisível.
Conservar, afinal, não é apenas preservar objetos. É ativar gestos. É escutar as escolhas de quem nos antecedeu e reconhecer as camadas – materiais, simbólicas, sociais – que se depositam nas imagens e nos artefactos. É também interrogar o presente: o que escolhemos lembrar? O que deixamos apagar? Que histórias ficam por contar?
Começar pelo negativo é, neste caso, um modo de olhar para o avesso das imagens, para os bastidores da fotografia, para aquilo que raramente é mostrado — mas que sustenta o que vemos. É nesse avesso que quero começar. E é por aí que convido quem lê a continuar.