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Boas Práticas

Registar para preservar: o inventário como ponto de partida para cuidar

Quando se fala de conservação de património, é natural que a atenção vá para ações visíveis: acondicionar, higienizar, restaurar. Mas há um documento técnico fundamental que está na base do trabalho de qualquer instituição: o registo – ou inventário.


Estas são duas designações para a mesma tarefa, usadas consoante o tipo de instituição: “registo” em arquivos e bibliotecas, “inventário” nos museus. Trata-se de um trabalho partilhado por vários profissionais, mas com um objetivo comum: garantir que cada objeto não só existe fisicamente, como também está documentado.


Pela sua importância como ferramenta de preservação e gestão de coleções, neste artigo explicamos o que é o registo, que informação deve conter, por que razão é o primeiro passo para qualquer ação de conservação – e o que se perde quando ele falta.

Ilustração com livro de registo e caneta

Conhecer é proteger

Registar um objeto significa atribuir-lhe um número único, descrever as suas características principais, indicar a sua proveniência, localização e estado de conservação. Este processo marca o início do seu percurso institucional e sustenta todas as decisões que se tomam sobre ele.

Não é uma simples formalidade – é também a primeira forma de preservação. É um documento essencial em qualquer instituição com espólio cultural, pois liga o objeto à coleção e à sua história. Em termos legais, comprova a relação do objeto com a instituição e constitui o primeiro nível de proteção em processos de classificação de património.


Do ponto de vista da conservação, o registo é também a primeira barreira contra o risco de dissociação.


Sem registo, um objeto pode sobreviver fisicamente, mas deixa de estar ligado à sua história, função e contexto. Uma espada sem registo é apenas uma espada. Mas se soubermos que pertenceu a determinado oficial, que foi usada numa batalha, que entrou na instituição numa data específica e por doação de uma família, então essa espada ganha densidade, significado, valor – e torna-se parte da nossa história e cultura.


O que é o registo (ou inventário)?

Em arquivos e bibliotecas, é comum falar-se em registo; em contextos museológicos, fala-se em inventário. A função é a mesma: marcar a entrada formal de um objeto num acervo institucional.


O registo pode assumir várias formas: ficha manual, livro de registos, ficheiro de dados (como um Excel) ou base de dados estruturada. Para garantir redundância e maior segurança, é prática comum manter registos físicos (em papel) replicados digitalmente.

Independentemente da forma, o objetivo é sempre o mesmo: identificar cada peça de forma individual, única e permanente.

 

O que deve conter o registo?

  • Número de registo único – sequencial, sem repetições

  • Tipo de objeto ou documento (ex: livro, fotografia, escultura, mobiliário…)

  • Título ou identificação principal

  • Autor ou produtor, se conhecido

  • Data de produção ou data aproximada

  • Forma de aquisição (doação, compra, depósito, incorporação…)

  • Características físicas, incluindo dimensões e materiais constituintes

  • Localização física exata (sala de depósito, vitrina, estante, prateleira, caixa…)

  • Estado físico no momento da entrada

  • Observações adicionais (ex: anotações manuscritas, sinais de deterioração, restrições de acesso, associação a outros objetos)


Sempre que possível, o registo deve ser complementado com imagens. Os objetos, uma vez registados, devem ser identificados com etiquetas que facilitem a associação ao respetivo registo – mesmo que inicialmente se usem etiquetas temporárias.

 

Porquê registar? O que está verdadeiramente em causa

1. Prova de pertença

O registo formal comprova que o objeto pertence à instituição. Sem ele, torna-se difícil recuperar peças extraviadas, defender juridicamente a sua posse ou justificar a sua guarda.


2. Preservação da história e do contexto

Cada objeto tem uma origem, um percurso e, muitas vezes, ligações a outras peças do acervo. O registo é o elo que mantém essas conexões vivas. Sem ele, perde-se a coerência da coleção.


3. Localização e organização

O registo permite saber exatamente onde está cada item. Isso é essencial para a gestão das reservas, circulação de materiais, atendimento ao público e segurança patrimonial.


4. Planeamento e estratégia

Só é possível planear a organização dos depósitos ou reservas, planear ações de conservação e, em geral, fazer uma boa gestão de coleções com base num levantamento fiável do que existe, onde está e em que estado se encontra.


5. Valorização e visibilidade

Um espólio bem registado é mais fácil de cuidar, divulgar, expor e incluir em ações como candidaturas a financiamentos, projetos educativos ou investigação. Ganha estatuto e reconhecimento.

 

O risco de dissociação

Entre os chamados “dez agentes de deterioração”, há um frequentemente negligenciado: a dissociação.


Dissociação é a perda da ligação entre o objeto e a sua documentação, proveniência ou significado.


Pode ocorrer por extravio de etiquetas, separação de partes, falhas na documentação ou mudanças de espaço mal acompanhadas. Mas o maior risco é a ausência – ou erros – de registo formal.


➡️ Sem registo, o objeto perde identidade. E sem identidade, deixa de ser património.

 

Como o registo técnico apoia a conservação

Além da sua função documental, o registo tem um papel fundamental na conservação preventiva:

  • Identifica peças frágeis ou danificadas desde o início

  • Permite acompanhar o estado físico ao longo do tempo

  • Ajuda a detetar padrões de risco (materiais vulneráveis, zonas críticas…)

  • Serve de base para planear o espaço necessário nas reservas, depósitos e exposições

  • Apoia decisões sobre mobiliário e acondicionamento

  • Prioriza intervenções e justifica os processos de decisão

 

Exemplos práticos

📖 Biblioteca escolar

Um levantamento revelou dezenas de livros sem registo, guardados numa arrecadação. Após a atualização do documento técnico, integraram a coleção ativa e foram incluídos no projeto de valorização da leitura pelo serviço educativo.


🏛️ Museu local

Durante uma campanha de digitalização, verificou-se a perda de etiquetas e atribuições erradas. A falta de inventário causou atrasos e custos adicionais. Com o inventário atualizado, foi possível retomar a digitalização, reconstituir séries, identificar autores e valorizar o conjunto.


🗃️ Arquivo comunitário

A atualização do registo físico e digital de um espólio paroquial permitiu reorganizar caixas, planear a aquisição de novas estantes e identificar documentos prioritários para conservação preventiva.

 

Boas práticas no registo de acervos

  • Todos os objetos devem ser registados – individualmente. Mesmo em casos de duplicados ou conjuntos, cada item deve ter entrada própria.

    Ex.: cada volume de uma enciclopédia, duas esculturas idênticas que formam um par, ou um acessório ou elemento que tem informação suficiente para ter autonomia descritiva deve ter número próprio.

  • A numeração deve ser única e irrepetível.

  • O sistema deve ser claro, coerente e fácil de manter e interpretar ao longo do tempo, mesmo por elementos que venham a integrar a equipa no futuro.

  • O registo deve ser atualizado regularmente, com revisão periódica do estado físico e da localização, para a qualquer momento, qualquer peça possa ser rapidamente identificada, sem risco de dissociação.

 

O papel do serviço Conservar +

Na Catarina Cortes Conservação & atelier CCC, o registo é uma ferramenta central. No âmbito do serviço Conservar +, apoiamos instituições a:

  • Iniciar ou atualizar registos ou inventários

  • Aconselhar sobre sistemas de registo manual e digital

  • Definir modelos adaptados à realidade específica de cada instituição

  • Estabelecer prioridades em coleções não organizadas

  • Relacionar o registo com diagnósticos e ações de conservação

  • Integrar o registo em planos mais amplos: arrumação, reorganização, digitalização, valorização

 

Conclusão – Registar é cuidar antes mesmo de intervir

O registo técnico é a primeira ferramenta de conservação.

Não é burocracia – é responsabilidade.

É ele que transforma um objeto em património com identidade, contexto e futuro.

Se está a começar a cuidar de um espólio, não salte etapas.

 

➡️ Comece pelo registo. Nós ajudamos.

Porque antes de conservar, é preciso saber o que se tem, onde está e o que representa.

 

📩 Quer começar?

Se precisa de apoio para iniciar ou reorganizar o registo do seu acervo, fale connosco.

📧 ateliercccporto@gmail.com

🌐 https://www.ccconservacao.com/conservar-mais

➡️ Conheça o serviço Conservar + e marque uma sessão de avaliação.

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